Eu adoro certas psicodelias da música brasileira. Repare só nessa canção do Zé Ramalho, em especial na segunda estrofe:
Frevo Mulher
Quantos aqui ouvem os olhos eram de fé
Quantos elementos amam aquela mulher
Quantos homens eram inverno outros verão
Outono caindo secos no solo da minha mão
Gemeram entre as cabeças a ponta do esporão
A folha do não-me-toque e o medo da solidão
Veneno meu companheiro desata no cantador
E desemboca no primeiro açude do meu amor
É quando o vento sacode a cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia procurando por um
Por outro lado, o Zé Ramalho também é capaz de fazer letras com sentido total e também muito lindas. Veja só essa abaixo, por exemplo, sobre um garoto de programa falando na primeira pessoa e feita a partir de contruções de imagens e/ou sensações
Garoto de Aluguel
Baby, dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você
Minha profissão é suja e vulgar
Quero um pagamento para me deitar
Junto com você estrangular meu riso
Dê-me seu amor que dele não preciso
Baby, nossa relação acaba-se assim
Como um caramelo que chegasse ao fim
Na boca vermelha de uma dama louca
Pague meu dinheiro e vista sua roupa
Deixe a porta aberta quando for saindo
Você vai chorando e eu fico sorrindo
Conte pras amigas que tudo foi mal
Nada me preocupa de um marginal
Juro que ainda vou fazer um filme que inclua essas duas músicas...