Gritos e Sussurros

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wterça-feira, 29 de abril de 2003


-Você gosta de cinema?
-ADORO! Nossa, sou viciado.
-Que legal. E que tipo de filme você gosta?
-Ah, eu detesto o cinema americano...
-Eh? Então vai se fuder, filha da puta metidinho a cult!











E pra não dizer que cinema americano vive de passado...











posted by João Cândido at 10:55


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Eu tenho uma camiseta escrita "Eu te amo"
Parece uma grande bobagem, mas é o que eu sinto quando estou voando
Eu fico pelado no quarto vendo a sua foto
Parece uma grande bobagem, mas é o que eu faço qunado eu tô de porre
(E eu tô de porre!)

Se eu pudesse eu estaria agora perto de você
Se eu pudesse eu ficaria sempre junto de você
Se eu pudesse eu estaria ouvindo o seu coração
Se eu pudesse eu não faria nada, nem esta canção



Alguém podia tocar essa música, né?


posted by João Cândido at 10:42


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Nas expectativas pra quarta-feira...

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho, eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como eu sonhei um dia

Quando o meu mundo era mais mundo e todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha, mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais forte, mais sentida
Quando a poesia (realmente) fez folia em minha vida
Você veio me contar dessa paixão inesperada por outra pessoa

Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom que eu tenho em mim (Eu tenho sim!)

Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz


posted by João Cândido at 10:29


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Olha o que eu roubei do blogue do Horta.
Hahahahahaha muito engraçado, tô rindo até agora.



posted by João Cândido at 10:16


wdomingo, 27 de abril de 2003


Eu sabia que seria foda. Mas eu não sabia que seria TÃO FODA!!



The poor dope - he always wanted a pool. Well, in the end, he got himself a pool.




I AM big. It's the pictures that got small.




We didn't need dialogue. We had faces!




Well, this is where you came in, back at that pool again, the one I always wanted. It's dawn now and they must have photographed me a thousand times. Then they got a couple of pruning hooks from the garden and fished me out... ever so gently. Funny, how gentle people get with you once you're dead.




And I promise you I'll never desert you again because after 'Salome' we'll make another picture and another picture. You see, this is my life! It always will be! Nothing else! Just us, the cameras, and those wonderful people out there in the dark! ...All right, Mr. DeMille, I'm ready for my close-up.


posted by João Cândido at 09:18


wsábado, 26 de abril de 2003


Certo.

VII Maratona do Odeon = Grande Pedaço de Coco!!!!!


posted by João Cândido at 14:33


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Caros amigos,
Parece que o governo Bush terá sucesso em colonizar o Iraque em algum momento dos próximos dias. Esta é uma tolice de grande magnitude -- e pagaremos por isso pelos próximos anos. Não valeu a vida de um único garoto americano de uniforme, sem falar dos milhares de iraquianos que morreram, e a eles dedico minhas condolências e orações.

Mas, onde estão todas aquelas armas de destruição em massa que foram a desculpa para essa guerra? Ah! Há muito a se dizer sobre tudo isso, mas vou guardar isso para outra oportunidade.

O que mais me preocupa nesse momento é que todos vocês -- a maioria dos americanos que não apóia essa guerra -- não fiquem calados ou sejam intimidados pelo que será saudado como uma grande vitória militar. Agora, mais do que nunca, as vozes da paz e da verdade têm de ser ouvidas. Recebi muita correspondência de pessoas que estão com um profundo sentimento de desespero e acham que suas vozes foram afogadas pelos tambores e bombas do falso patriotismo. Alguns estão com medo de retaliações no trabalho ou na escola ou na vizinhança
porque eles advogaram publicamente a paz. Eles ouviram diversas vezes que não é "apropriado" protestar uma vez que o país está em guerra, e que sua única obrigação é "apoiar os soldados".

Posso dividir com vocês o que tem acontecido comigo desde que usei meu tempo no palco do Oscar semanas atrás para falar contra Bush e essa guerra? Espero que, ao lerem o que estou prestes a contar, vocês se sintam um pouco mais encorajados a fazer com que suas vozes sejam ouvidas em qualquer oportunidade que lhes seja concedida.

Quando Tiros em Columbine foi anunciado como o vencedor do Oscar de melhor documentário na cerimônia da academia, a platéia se levantou. Foi um grande momento, algo que sempre irei guardar no coração. Eles estavam de pé e celebrando um filme que diz que nós, americanos, somos um povo singularmente violento, que usa nosso maciço acúmulo de armas para nos matar uns aos outros e para apontar para muitos países em todo o mundo. Eles estavam aplaudindo um filme que mostra George W. Bush usando temores fictícios para aterrorizar público para que este concedesse a ele qualquer coisa que pedisse. E eles estavam
honrando um filme que declara o seguinte: a primeira Guerra do Golfo foi
uma tentativa de reinstalar o ditador do Kuwait; Saddam Hussein foi equipado com armas dos Estados Unidos; e o governo americano é responsável pelas mortes de meio milhão de crianças no Iraque na última década devido a sanções e bombardeios. Este era o filme que eles estavam festejando, este era o filme em que eles tinham votado, e, então, decidi que era isso que eu deveria lembrar no meu discurso.

E, assim, disse o seguinte no palco do Oscar:
"Em nome dos nossos produtores, Kathleen Glynn e Michael Donovan (do Canadá), gostaria de agradecer à Academia por este prêmio. Convidei os outros indicados para a categoria de melhor documentário para subirem ao palco comigo. Eles estão aqui em solidariedade porque gostamos de não-ficção. Gostamos de não-ficção porque vivemos em tempos fictícios. Vivemos num tempo no qual os resultados fictícios de uma eleição nos deram um presidente fictício. Estamos agora fazendo uma guerra por motivos fictícios. Mesmo que seja a ficção das fitas
adesivas (para selar janelas) ou os 'alertas laranjas' fictícios, somos
contra essa guerra, senhor Bush. Tenha vergonha, senhor Bush, tenha
vergonha. E, sempre que se tem o Papa e as Dixie Chicks contra você, seu tempo está acabando"
.

Enquanto falava, algumas pessoas na platéia começaram a aplaudir. Isto
imediatamente fez com que um grupo de pessoas no balcão começasse a vaiar. Então aqueles que estavam apoiando as declarações começaram a gritar com quem estava vaiando. O Los Angeles Times relatou que o diretor do show começou a gritar para a orquestra 'música! música!' para me cortar, então o conjunto obedientemente iniciou uma canção e meu tempo estava acabado. (Para mais informações sobre o por quê de eu ter dito o que disse, pode-seler o artigo que escrevi para o Los Angeles Times, mais outras reações de outros lugares do país no meu site: www.michaelmoore.com).

No dia seguinte -- e nas semanas subseqüentes -- os especialistas de direita e os garotões dos programas de rádio pediram a minha cabeça. Então, todo esse tumulto me causou danos? Eles tiveram sucesso em me "silenciar"?

Bem, dêem uma olhada nos "efeitos colaterais" do meu Oscar:
No dia seguinte ao que critiquei Bush e a guerra na festa do Oscar, o
público de Tiros em Columbine nos cinemas em todo o país aumentou 110% (fonte: Daily Variety/BoxOfficeMojo.com). Na semana que se seguiu, o faturamento da bilheteria subiu incríveis 73% (Variety). É, no momento, o lançamento comercial em cartaz há mais tempo nos EUA. São 26 semanas seguidas e continua prosperando. O número de salas que está exibindo o filme desde o Oscar AUMENTOU, e já superou o recorde anterior de bilheteria de um documentário em quase 300%.

No dia 6 de abril, Homens brancos estúpidos [último livro de Moore] voltou ao primeiro lugar na lista de mais vendidos do New York Times. Aquela foi a 50a semana em que o livro estava na lista, oito delas no primeiro lugar, e marca sua quarta volta para a primeira posição, algo que
praticamente nunca aconteceu.

Na semana seguinte ao Oscar, meu saite teve de dez a 20 milhões de acessos POR DIA (num dia ele teve mais acessos do que o da Casa Branca!). A caixa de correio tem sido esmagadoramente positiva e encorajadora (e as mensagens de ódio têm sido hilárias!).

Nos dois dias seguintes ao Oscar, mais pessoas fizeram a pré-compra do vídeo Tiros em Columbine na Amazon.com do que do vídeo que recebeu o Oscar de melhor filme, Chicago.

Na primeira semana de abril, consegui o financiamento para meu próximo documentário, e me ofereceram um espaço na televisão para fazer uma versão atualizada de TV Nation/The awful truth (TV Nação/A terrível verdade).

Digo tudo isso para vocês porque quero contra-atacar uma mensagem que é dita para nós todo o tempo -- que, se você aproveita uma chance para falar publicamente de política, você se arrependerá para sempre. Isso irá causar danos de alguma forma, normalmente em termos financeiros. Você pode perder seu emprego. Outros podem não contratá-lo. Você perderá amigos. E mais e mais e mais.

Pegue como exemplo as Dixie Chicks. Tenho certeza de que vocês todos já escutaram que, porque a cantora da banda mencionou o fato de estar envergonhada por Bush ser de seu estado natal, o Texas, as vendas de seu CD "despencaram" e estações de rádio do país estão boicotando as músicas do grupo. A verdade é que suas vendas NÃO caíram. Na primeira semana de abril, depois de todos esses ataques, o CD continua na posição número um da Billboard e, de acordo com a Entertainment Weekly, nas paradas pop durante toda essa confusão
as Dixie Chicks SUBIRAM da sexta para a quarta posição. No New York Times, Frank Rich relata que tentou conseguir um ingresso para QUALQUER das próximas apresentações das Dixie Chicks mas não conseguiu porque eles estavam completamente esgotados. Sua canção Travelin' soldier (uma bonita balada antiguerra) foi a música mais pedida na internet semana passada. Elas não sofreram qualquer dano -- mas isso não é o que a mídia quer que vocês acreditem. Por que isso?
Porque não há nada mais importante agora do que manter as vozes divergentes -- e aquelas que ousassem fazer perguntas -- QUIETAS. E que forma melhor do que tentar e tirar da praça alguns artistas com um pacote de mentiras para que o José e a Maria normais captem a mensagem de modo alto e claro: "Uau, se eles podem fazer isso com as Dixie Chicks ou com o Michael Moore, o que fariam com euzinho aqui?" Em outras palavras, cale a maldita boca.

E isso, meus amigos, é o propósito desse filme que acabou de ganhar o Oscar -- como aqueles que estão no poder usam o MEDO para manipular o público e fazê-lo agir da forma como devem agir.

Bem, as boas notícias -- se pode haver quaisquer boas notícias esta semana -- são que não apenas eu e outros não fomos silenciados, como nos reunimos a milhões de americanos que pensam do mesmo modo que nós. Não deixem que os falsos patriotas os intimidem a acertarem a pauta e os termos do debate. Não seja derrotado pelas pesquisas de opinião que mostram que 70% das pessoas estão a favor da guerra. Lembrem-se que aqueles americanos que foram pesquisados
são os mesmos americanos cujos filhos (ou os filhos dos vizinhos) foram enviados para o Iraque. Eles temem pelos soldados e são intimidados a apoiar uma guerra que eles não querem -- e querem ainda menos ver seus amigos, família e vizinhos voltarem mortos. Todos querem que os soldados voltem para casa vivos e todos nós precisamos estender as mãos e fazer com que suas famílias saibam disso.

Infelizmente, Bush e companhia ainda não estão satisfeitos. Essa invasão e conquista irão encorajá-los a fazer isso de novo em outro lugar. O motivo verdadeiro para essa guerra é dizer ao resto do mundo: "Não se meta com o Texas -- se você tem o que queremos, vamos aí pegar!" Esse não é um tempo para que a maioria de nós que acredita numa América pacífica fique calada. Façam com que suas vozes sejam ouvidas. Apesar do que eles conseguiram fazer, este ainda é o nosso país.

Sinceramente,
Michael Moore.


posted by João Cândido at 13:52


wquinta-feira, 24 de abril de 2003


Eu não sei mexer em HTML nem nessas coisas de código de internet. Por isso eu nem me arrisco a colocar link aqui do lado com endereço de blogue dos amigos, senão pode fuder tudo e eu não sei consertar. Pois então vamos lá: uma pequena seleção, um Top10 blogues que eu mais freqüento

(10) TAGLESS - O blogue da Grazi, que eu conheci há pouco tempo (ambos). Ela também estuda na UFF e leu o Manifesto Comunista!!!

(09) PARIS 1937 - É o blogue do Inhame Sinistrão Boladão Frenético Homossexual onde você vai dar 348 risadas a cada post.

(08) NOTAS PARA VOCÊ NÃO ENTENDER - É basicamente isso. Notas para você não entender. Dá pra se perder e se encontrar bastante. E quem escreve é um... velho safado!

(07) SHE'S A TOTAL BLAM BLAM! - O blogue da Bia, que fez 16 anos outro dia, uma pequena enfante ainda...

(06) AGORA NÃO POSSO, TÔ COMENDO MEU CHANDELLE! - Hahaha! Quem não conhece o blogue do Gabriel?? Ele é lindo e todo colorido!!

(05) COISA ASSASSINA - O blogue mais fofo de toda a Terra. Escrito pelo Fernando Puga, que não fica atrás na fofice. E às vezes eu acho que só eu entro lá :(

(04) I CAN'T BELIVE IT'S NOT BUTTER! - São as betises do Gustavoooooooooo cheio de fotos e letras de músicas fodas e comentários mais fodas ainda.

(03) PASSIONOIA - O blogue da Tatiana Fake, que manda e-mail de reclamação pra Kopenhagem. HAHAHAHA!!! E ela gostou de Amélia Poulain. Mas também, quem não gostou??

(02) WHITOUT YOU I'M NOTHING - Hehe Nem preciso comentar esse blogue porque ele é O MAIS POP! É o diário virtual (literalmente) da Pavona-quer-um-pouco-de-cubik. E os comentários são sempre bem freqüentados.

(01) SASQUATCH! - Hahahahahahah Nãããão, não é o blogue do Sasquatch. Aliás, imagina se o Sasquatch tivesse blogue??? Huaeuhaeue É o blogue da Nati, que já teria primeiro lugar garatindo só por ter colocado no ar a carta do Fernandão. Haeuheauheahae Mas não é só isso. Todos os posts são fodas. Haeuhaehuea ELA TRANSCREVEU O "SÍLVIO SANTOS NO MOTEL"!!!! Haeuaeuhaeaehaeuheauh!!!!


posted by João Cândido at 09:39


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E eu continuo me sentindo um filho da puta :/


posted by João Cândido at 09:11


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Parece que esse problema de comentários não é só comigo. Eu tou me roendo pra comentar aqui mas não consigo :_(


posted by João Cândido at 09:10


wquarta-feira, 23 de abril de 2003


Kiki!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



posted by João Cândido at 03:19


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E a caralhinha dos comentários ainda está fora do ar.


posted by João Cândido at 03:05


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Nossa, isso aqui virou uma filial do Contracampo. hahahaha. Quem mandou terem críticas fodas? hehe

E sexta? Alguém sabe qual é a boa da Maratona do Odeon?


posted by João Cândido at 02:57


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O Homem Sem Passado
Por Ruy Gardnier



Como fazer uma fábula contemporânea sobre o estranhamento do presente e o processo de reificação que progressivamente intermedia nossas relações com a sociedade? Tome um homem: ele chega de trem numa cidade nova. Caminhando pela rua, ele é impiedosamente espancado por um grupo de ladrões, que de quebra lhe roubam todos os pertences pessoais. Levado ao hospital, sobrevive em aparelhos até que todos os sinais da máquina (mais uma vez aí a vida, a humanidade é um índice a ser considerado eletronicamente) revelam que esse homem não tem mais atividade cerebral ou batimentos cardíacos. Quando o barulhinho já clássico de morte começa a povoar nossos ouvidos, o médico e a enfermeira saem da sala. Mas surpresa: esse personagem vive. Talvez não: talvez ele não seja mais um personagem, alguém que tenha uma individualidade, um interior ao qual poderíamos designar "sujeito". Ele é simplesmente uma presença, um dado a mais. Amnésico, sem saber seu nome ou proveniência, desprovido de quaisquer atributos psíquicos ou materiais, ele precisa construir do zero uma existência para ele.

A maior parte das histórias saberia por onde seguir seu caminho: o personagem vai levar o longo do filme para descobrir quem ele é, reencontrar suas raízes, retomar a vida que vivia. O herói sem passado de Aki Kaurismaki faz o percurso inverso. Ele quer viver como ele é, não como aquilo que ele não é mais: ele aceita positivamente sua pecha de homem sem passado. A estranha descoberta chega rapidamente: a sociedade não permite homens sem passado, ela precisa que a cada individualidade seja atribuído um nome, um cartão de identificação, uma atividade. Nessa inadequação entre um personagem que não pode (nem quer) viver com dados que são estranhos a ele e uma sociedade que o obriga em algum grau a ter algum tipo de subjetividade institucionalizável é que O Homem Passado consegue produzir uma beleza difícil, estranha, às vezes cínica, às vezes apenas desencantada, onde o riso (sim, curiosamente trata-se de uma comédia) serve como elemento deflagrador jogos sociais que de alguma forma impedem e atrapalham nosso herói sem nome: precisar de um nome para abrir uma conta, para encontrar um trabalho, para não ser preso...

Filmado numa palheta de cores fria com algum calor (os negros sempre sobressaem, mas as cores fortes são bastante pregnantes), O Homem Sem Passado lembra cromaticamente os filmes alemães dos anos 70, da geração Wenders-Fassbinder-Herzog. Curiosamente, o filme desenvolve para além da fotografia um possível diálogo com essa trinca. Se a preocupação maior desses três cineastas era a inadequação de seus personagens a uma sociedade que não os aceita (Fassbinder) ou suporta (Herzog), a de O Homem Sem Passado não é diferente: mostra como um homem precisa construir para si um mundo diferente daquele que é dado como padrão na sociedade, e seu corolário, ou seja, como a sociedade faz de tudo para dificultar essa possibilidade de linha de fuga. Assim, fica tranqüilamente do lado do Wenders de Alice nas Cidades ou No Decurso do Tempo.

Deixado nu de lembranças e com poucos farrapos para vestir, nosso homem sem passado aos poucos constrói para si sua vida possível: aluga fiado um trêiler para ter um teto, procura emprego, consegue amizades (naturalmente, amizades sem diálogos). Procura o exército de salvação para não morrer de fome, consegue novas roupas e uma namorada. Mas a um homem sem nome só é permitida uma vida anônima: para trabalhar precisa ter uma conta em banco (não há outra forma de pagamento além do cheque), e para ter uma conta em banco é preciso ter um nome. O Homem Sem Passado funciona de acordo com a lógica do absurdo: como é possível que hoje precisemos ter todas as nossas relações mediadas por instâncias burocráticas (bancárias, de bancos de dados?), como todo tipo de relação de identidade (nossas carteiras de identificação, não por acaso, são "de identidade") pode se revelar tão coercitivo quanto um caso de polícia. Para não duvidarmos, é o próprio Kaurismaki que o insinua: presente num banco no momento de um roubo, o homem sem nome e sem passado é colocado numa cela. Do ponto de vista do absurdo, a cena seguinte é a mais forte do filme: o delegado e o advogado discutem entre si os textos da lei, enquanto o protagonista permanece fora do centro da discussão.

O Homem Sem Passado é uma comédia triste. De um lado, as situações e as tiradas de alguns personagens (o ladrão do banco quer uma quantia exata – saberemos depois que foi roubado pelo banco – e pergunta à caixa se não haveria dinheiro a mais, ao que ela responde categoricamente: "pode ter certeza que não, faz parte do meu trabalho") são hilariantes, de um humor mordaz; de outro, o silêncio generalizado e os rostos sempre baixos, bressonianos, e o próprio andamento do filme entregam ao espectador uma recepção fria, agridoce. Afinal, não é uma tragédia nem uma comédia, mas um drama: o drama dos milhões de anônimos, pobres e excluídos em geral da lógica social que o filme parece evocar a cada momento. Ao longo do filme, nosso personagem tem a possibilidade de reencontrar sua família, de redescobrir seu nome, de voltar a viver a vida que vivia. Sua vida anterior, descobre ele, era protocolar, desertificada, sem ânimo próprio (um casamento em banho maria, vida sem satisfação). Nos anônimos, ao contrário, há vida, há calor, existe até a possibilidade de uma política, pois esses anônimos são os únicos que habitam a polis. Os outros, aqueles com nome, habitam apenas suas casas e repartições. Acreditaria-se que O Homem Sem Passado é a tradução cinematográfica das teorias de Jacques Rancière. Tanto melhor para os dois. O Homem Sem Passado brilha com força.


posted by João Cândido at 02:55


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Durval Discos
Por Cléber Eduardo



Por qualquer ângulo que se observe Durval Discos, estréia em longa-metragem de Anna Muylaert, nota-se como encenação e personagens resistem ao tempo. Esse é, na essência, seu tema. E também a sua forma. Temos em primeiro plano um dono de loja de discos, o tal Durval (Ary França), dedicado a vender apenas os antigos bolachões. É um anacrônico. Tem alergia ao comércio de CDs e mantém-se fiel às referências dos anos 70 (musicais, cinematográficas e visuais). Ele não ficou para trás. Criou um tempo paralelo, imune à ação das duas décadas. Sua relação umbilical com a mãe (Etty Fraser), levada com afeto e atritos, revela seu aprisionamento ao ninho. A casa onde moram é um útero do qual ambos se protegem dos signos do mundo exterior. O maior problema de Durval, por sinal, foi algo perdido com o tempo: a receita de um doce esquecida pela mama.

Ato 1
Vemos o cotidiano de Durval. Em seu lar-loja parado no tempo, aberto à raras intromissões de fora, acontece uma sucessão de eventos banais: discussões com a mãe, conversas com clientes, paquera com a vizinha. Sentimos uma pasmaceira cheia de harmonia. Nos pequenos gestos, nota-se o calor da vida. Também se antevê o início de um conflito que pode pôr fim à ordem do lugar. Durval percebe que, idosa e cansada, a mãe precisa de auxílio. Ela resiste. Não quer uma empregada doméstica, pois, dessa forma, passa a não ter mais utilidade. Ele insiste. Inicia-se o ritual de entrevistas com candidatas. Pagam pouco, quase nada.

Corta!

Ato 2
A contratação de uma empregada doméstica (Letícia Sabatella), aparentemente um anjo, destruirá a tela protetora a manter o equilíbrio da casa. Ela introduz o caos externo no ambiente doméstico por meio de uma criança largada por lá. Essa nova personagem, a princípio, tem ares de renovação. Na verdade, é uma ruptura. Eles terão de cortar as amarras com o tempo congelado e com a realidade paralela para se adequar à nova circunstância.

Corta!

Ato 3
A mãe não tolera o risco da perda do filho, simbolicamente falando, e tenta colocar a menina em seu lugar. Por sua vez, Durval tenta, atabalhoadamente, sair da casca. O filme muda de registro. Chega próximo do delírio para mostrar a completa incapacidade dos personagens em manter controle sobre transformações e imprevistos.

Corta!

Anna Muylaert filma sua fabulação urbana-doméstica em fina sintonia com seu tema. Seus planos procuram reproduzir, pela duração, a tentativa dos personagens de parar o tempo. Temos aqui um interessante contraste. Porque o refúgio no passado e a proteção contra a realidade toma outra proporção em um cidade, São Paulo, onde tuda muda o tempo inteiro e apaga marcas do passado com velocidade. Bastam duas ou três seqüências externas, incluído o plano inicial e o final, para se ter esse choque em evidência. O primeiro ato, assim, comumente definido como o "normal", na verdade é surrealista. Idílico pelo menos. Normal seria, pela desordem do ambiente onde a ação se inscreve, o ato delirante. É o abrir dos olhos dos personagens para o tempo e o lugar onde vivem.

Ao optar por uma narrativa de tomadas extensas e lentos movimentos de câmera, Anna Muyalaert filia-se esteticamente ao anacronismo de mãe e filho por negar as narrativas aceleradas, estruturadas com estilhaços visuais e giros alucinantes de câmera. Ela substitui a forma em movimento de montanha-russa pela preservação da vida na imagem com a cadência de um carossel. Sua cenografia pulsa sem chamar atenção para si. Faz móveis e cômodos, enfim a casa, soarem verdadeiros na representação. A mise-en-scène também evita concorrer com os personagens para sobretudo servi-los. O mini-elenco, portanto, é valorizado. Poucos filmes recentes, brasileiros ou não, foram tão generosos com os atores.


Há quem acuse a diretora de ter fetiche pelo plano-sequência. Muitas passagens não pediriam, necessariamente, essa maneira de filmar sem cortes. Talvez seja o caso de substituir o termo fetiche por resistência estética. Com a tendência de se picotar os blocos narrativos em planos curtos, com encadeamento estroboscópico, as imagens tendem a se tornar signos sem significação. Em vez de comunicar, a informação visual omite. Durval Discos caminha, não sem riscos, em direção oposta. Estica tanto alguns planos, para poder transmitir sem pressa todas as informações visuais ali contidas, que quase os esteriliza. O estranhamento provocado nessas situações talvez esteja menos na opção e mais no condicionamento de nosso olhar aos andamentos com pé no acelerador. Anna Muylaert restitui, por assim dizer, a verdade da imagem. A sua verdade, de sua imagem.


posted by João Cândido at 02:42


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Separações
Por Cléber Eduardo



Separações começa após o terceiro uísque. A câmera gira ao redor de uma mesa de bar enquanto Domingos Oliveira, em seu autêntico papel de Domingos Oliveira, com a voz balbuciante e muito afeto nas palavras, compara os efeitos de um fim de um casamento com as de um doente terminal. Tanto em um caso como em outro, diz Domingos pela boca do personagem Cabral, vai-se da negação à agonia. Num primeiro momento, os cônjuges, como os doentes, não aceitam sua condição. Sob efeito do trauma da perda à vista, sentem-se em um pesadelo do qual, a qualquer hora, acordarão para uma vida melhor. No último estágio, após a aceitação da página virada, chega o luto. E também o desespero, o vazio, a falta de rumo, de sentido para tudo. A associação entre uma situação e outra, porém, será relativizada pelo diretor e pelo protagonista.

Ao contrário da doença terminal, a separação gera sobreviventes, ainda que feridos, mas não mortos sem esperanças. Reside nessa diferença a proposta afirmativa, para não dizer otimisma, tanto desse filme como da obra de Domingos. Por mais que se sofra, que se perca, que se mate e se morra, a vida sempre avança, conforme ele nos mostra. É um processo que, mesmo pontuado por rupturas, segue seu fluxo. A crença na renovação das trajetórias ou em sua retomada após alguns atritos dá uma cor de felicidade possível à amargura real das situações expostas na tela. Domingos não filma as dores do amor como são, não sempre pelo menos, mas como poderiam ser.

Isso não significa que, à moda da tradição das comédias românticas americanas, a vida seja consertada. O diretor e roteirista não idealiza os seres humanos ou as emoções. Na verdade, os problematiza, talvez, no limite da neurose. Essa característica estimula comparações com Woody Allen. Mas essa é uma ponte frágil demais para se atravessar. Allen guarda um ar cínico e cruel ao falar do homem e de seus conflitos. Ri de seus personagens. Domingos é doce. Ri com seus personagens pois se enxerga neles. Não os vê com superioridade, mas no mesmo plano. E tais personagens, longe de serem perfeitos, são todos tortos. Amam uma pessoa e desejam outra, titubeiam na hora de decidir algo e se arrependem após algumas decisões. A grandeza deles está em seus limites.

Esses personagens apaixonam-se, separam-se, cometem adultério, sofrem, riem, choram e rastejam em nome do amor. Entramos agora em outra ponte, essa mais sólida, mas não de todo confiável, que nos conduz a François Truffaut. Nos dois casos, o do carioca e o do francês, o amor é motor da vida. Não importa o que falam os personagens, quais são seus outros problemas de cotidiano, pois seus temas são únicos: a necessidade, os conflitos e as dores do amor. Sem ignorar o lado trágico da experiência romântica, Domingos é mais esperançoso em seu olhar. E também menos grave. O humor dos diálogos é empregado para recolocar fatos isolados no contexto mais amplo da aventura humana. A câmera nos diz: isso ou aquilo machuca, mas há cura para tudo.

Nenhum erro é definitivo, mudanças são possíveis, a existência é movimento, mas nem sempre, ou quase nunca, contínuo e em linha reta. Como se diz em Fale com Ela, de Pedro Almodóvar, "viver não é fácil". Domingos concorda, mas acredita, segundo seus filmes mais íntimos (Todas as Mulheres do Mundo, Edu Coração de Ouro, Amores) que o saldo, aquele resultado de bônus menos ônus, ainda é positivo. Bastaria, ainda segundo ele, persegui-lo. Portanto, se a vida não proporciona prazer permanente, ao menos é viável. E nos permite ser senhores, ainda que parcialmente, de nossos corações e atitudes. Mesmo pagando preços nem sempre baixos por nossas escolhas. Não deixa de ser relevante como as ações estão vinculadas ao tempo. Porque esse cinema em questão mostra os efeitos gerados pela caminhada do homem rumo à morte. É preciso viver com urgência e corrigir caminhos errados em Separações. E a questão é: onde está o erro? Onde investir o tempo?

O próprio diretor é eixo principal de sua narrativa dividida em vários blocos e personagens. Ele impõe sua voz emocionada e embriagada de vida ao dramaturgo Cabral. Entediado com a estabilidade conjugal, o protagonista pede férias à esposa (Priscilla Rozenbaum). Logo volta atrás. Tarde demais. A esposa já está de caso com um conhecido deles. Cabral desaba. Enquanto desce ao fundo do poço, apenas para descobrir que poços assim não têm fundo, outros personagens vivem suas crises. A filha dele é casada com um, transa com outro e leva um pé do marido porque, quem diria, ele está de caso com uma amiga dela. Já o diretor de uma peça equilibra-se, sem muito dor de cabeça, no meio fio das relações duplas.

Há quem veja na radiografia desse micro-universo humano, sediado em uma estreita faixa da Zona Sul do Rio e habitado por tipos vocacionados para a boêmia, a problematização burguesa de quem não tem problema. Os chavões filosóficos de boteco acentuam essa reação. Quem não tem o que resolver na vida, sob essa perspectiva, joga palavras molhadas ao vento. Domingos faria a crônica estéril e impotente de um segmento cultural do planeta Baixo Gávea e Baixo Leblon. Filmaria apenas o umbigo de sua galera. Enxergar os personagens e a as situações expostas na tela apenas por esse microscópio é ignorar exatamente um dos pontos altos do cinema desse subestimado cineasta. Ele trata de seu grupinho, sim, mas o torna familiar a nós. Extrai verdades mais amplas a partir de suas verdades subjetivas.

E uma das maiores delas é sua maneira de mostrar a amoralidade do amor. Princípios de conduta são arquivados ou adaptados às necessidades do momento quando seus personagens estão apaixonados. A moral passa a ser condizente com a natureza de cada um. Não o contrário. Para o ser que ama, ele tem razão. Sempre. Essa é uma postura peculiar para um leitor confesso de Dostoievski. Citado em Amores e Separações, o escritor russo defendia o sacrifício em nome do bem comum. Essa é a base de muitos de seus livros. Só a abdicação e a contenção purifica. Para os personagens de Domingos Oliveira, essa é uma postura incompatível com as razões do coração. E ela existe. "A verdadeira liberdade não é seguir os impulsos, mas obedecer as escolhas que fizemos para nós mesmos", diz Cabral, depois de comer o pão que a carência amassou.

São comuns as restrições à interpretação de Domingos. Seria possível concordar com a reclamação se ele interpretasse em cena. Porém, não o faz. Domingos é uma imagem que, ao balbuciar palavras em oratória trôpega, esbanja autenticidade. Essa verdade das palavras faz dele um personagem de si mesmo. Suas frases choram, berram, beijam e sangram. Tudo isso sem precisar representar, mas crendo no que está dizendo. Tal espontaneidade e convicção ameniza possíveis atritos colocados na linguagem cinematográfica. Não há como se incomodar com a marcação teatral dos atores e dos diálogos ou com o desleixo visual gerado pela escassez de produção quando o foco do filme está no ser humano e não na técnica. Não se visa o efeito realista, de modo a fazer as situações parecerem a vida como ela é, nem a farsa cômica, como as sitcoms brasileiras ou estrangeiras consagraram.

Seu artifícios narrativos podem, sim, ser considerados televisivos, como se fossem inspirados em séries como Comédia da Vida Privada e Os Normais, com uso de matalinguagem e atuações informais, mas, na verdade, foi a televisão que bebeu na fonte do diretor. Antes de entrar para a Globo, onde escreveu e dirigiu o memorável Ciranda Cirandinha, tinha investido em soluções, como as de Todas as Mulheres do Mundo, depois assimiladas pela telinha. Elementos do fim dos anos 60 tornaram-se mainstream no século 21. O lado ousadinho do mainstream. Mas novamente é preciso avaliar a segurança dessa ponte. Porque as séries, no fundo, são paródicas. Tiram uma onda com suas caricaturas. Domingos, repete-se, ama seus tipos. Tipos não, indivíduos. O diretor propõe uma encenação afetuosa, ora risonha, ora amarga, sobre os espinhos da privacidade. Em sua proposta, Separações é enorme. Tem a grandeza de não querer ser grande, mas pessoal, sem perder de vista a pretensão de encarar o ilimitado de cada um. . Parece o ensaio de um filme, um esboço não conclusivo, como são as questões do amor.


posted by João Cândido at 02:38


wterça-feira, 22 de abril de 2003


Era uma vêz,
Um disco impossível de ser realizado...
...E surgiram rostos.

Seria muito difícil lidar com várias
personalidades diferentes...
...E nasceram idéias.

Teria ainda a diferença de tons...
... E ouviram-se vozes.

Não haveria um projeto mais fácil?
...E responderam vibrações positivas.

Mas que loucura! O disco já está pronto..!
...Amo meus amigos e agradeço suas
existências*.

Erasmo
Barra da Tijuca, junho, 1980


*Mãe, gostaria de partilhar minha festa c/ você.
Êste disco é seu.


posted by João Cândido at 01:20


wterça-feira, 8 de abril de 2003


Dica de música: Chantilly - Smash Hit.
Na voz, Tatiana Fake e na guitarra e baixo, Leandro Schonfelder, meus amigos!
Ah sim, clicando no nome da música ae em cima, vai pra página pra você pegar. E a letra tá aí embaixo, composta pela Fake.

Smash Hit
Chantilly

You look like my favorite movie star
While you smoke a cigarette I watch you from apart
I wonder why the other guys don’t have your good taste for ties
Everytime I’m luck enough to meet you by the by

I know I would be unsuccessful as your best mate or lover
But I’m quite sure in previous life we have been sister and brother
The other day I found you like my favorite song
The radio was turned on
I heard you sing along

Oh, I’m in love with you deeply
Oooh-hoo…
Say that you do… that you do… that you do…
Love me too

I enjoy the way you spend your Monday evenings
My friends can not believe I’m doing such things
Writing down the name of every place you go
Buying the books you buy
That’s why I’m reading Dario Fo

And if you turned on the radio at half past two
You’d learn
A silly song is always being dedicated to you

Ok, I know it’s absolutely ridiculous
My friends can’t help but laugh no matter when the band goes

Oh, I’m in love with you deeply…


posted by João Cândido at 15:59


wdomingo, 6 de abril de 2003


Estou atualizandoooooooooooooooo!!!


posted by João Cândido at 18:17